"Cada libro, cada tomo que ves tiene alma. El alma de quien lo escribió y el alma de quienes lo leyeron y vivieron y soñaron con el (...) Los libros son espejos: sólo se ven en ellos lo que uno ya lleva dentro"

(Carlos Ruiz Zafón, La sombra del viento)

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Outro tipo de leitura...


Bem, eu estava na segunda série quando me sentei de frente para um piano. Porém, só aprenderia a ler partituras dois anos mais tarde. A primeira música que toquei na flauta doce foi asa branca, depois disso resolvi seguir os estudos por conta própria e aprendi por mim mesma como tocar as outras notas. Acho engraçado pensar que música é, antes de todas as outras, minha segunda língua.


O sax veio depois. Depois que eu tinha tocado muito com o grupo de flauta do colégio Pedro II, depois que eu tinha penado para aprender a tocar Tormento D'amore. Eu tinha acabado de fazer 15 anos quando toquei sax pela primeira vez. E esse foi o meu presente, decidi que preferia um saxofone ao invés de festa.

O sonho do meu pai era que eu tocasse sax, então ele não apenas topou como também comprou um dos melhores saxofones do mundo, que veio direto de Paris. Arrisquei algumas notas, dei cambaleantes primeiros passos e me apaixonei pelo instrumento. A música me traz boas lembranças. Trago a vocês uma delas. Tínhamos em nossa escola um velho piano, brincávamos dizendo que era da época do Imperador. Um belo piano, meia cauda Fritz Dobert. Porém, ele estava totalmente desafinado e se o governo muitas vezes não pagava a conta de luz da escola, que dirá o conserto do piano. Nossa professora então organizou um belo espetáculo musical. Ela fez arranjos para músicas famosas do cinema como Somewhere Over the Rainbow (Mágico de Oz), As time goes By (casablanca), Love Story e Star Wars.

Todas eram tocadas em flauta doce, apenas uma ou outra contavam com participação especial de um ou outro aluno que tocasse outro instrumento. Minha amiga tocou “Don't Cry for me Argentina” na Flauta Transversa e eu toquei “Cantando na Chuva” no sax e com um chapéu ridículo. Cobramos ingresso e lotamos três sessões no mesmo dia. Pagamos a afinação do piano.

Hoje fui a um belo espetáculo de sax e vi releituras de clássicos da nossa música como Tom Jobim, Vinícius e Baden Powell.
Apesar de ser completamente eclética, devo admitir que tenho uma afeição especial pelo Jazz. Gosto das suas muitas possibilidades, é o que torna tão livre. Gosto de pensar que erros podem ser dissonâncias e podem ser muito bem-vindos. Gosto da criatividade do músico que permite-lhe que cada apresentação seja única e diferente.
Isso é o belo da leitura musical, até mesmo o ritmo do compasso segue a batida do coração do musicista.

Não, você não vai encontrar Jazz no meu Ipod. Para mim Jazz, assim como música clássica, é o tipo de música que você não ouve no ônibus ou no metrô. Você ouve no sofá da sala, sem interrupções, de olhos fechados, em total estado de graça para não perder nenhuma nota da escala.

Apesar de amar todos os instrumentos e ter uma enorme queda pelo Cello, devo dizer que poucos são tão expressivos quanto o saxofone. Sax que ri, faz rir e tantas vezes chora notas densas em uma escala de sol maior.

Bom fazer outros tipos de leituras, por elas e para elas o meu sax está sempre do meu lado no meu quarto. Partituras são um outro tipo de livro aberto.
Como aprendi com a professora Guida, existem muitas e diversas formas de se ler o mundo, pois ler é uma ação que não se limita a estar nos olhos, lemos com o corpo todo.
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Ps. Deixo aqui a indicação. O espetáculo chama-se 4/4 e foi idealizado por Leo Gandelman e produzido com apoio do SESC. Essa foi a última apresentação no Rio de Janeiro, mas fiquem atentos para qualquer espetáculo com qualquer um dos quatro saxofonistas participantes. Todos são excelentes, Mauro Senice, Nivaldo Ornelas, Paulo Moura e o próprio Leo.

2 comentários:

  1. Eu teria, se eu tivesse sido informada antes. Meu pai pegou as informações já em cima da hora....
    Lamento.

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