"Cada libro, cada tomo que ves tiene alma. El alma de quien lo escribió y el alma de quienes lo leyeron y vivieron y soñaron con el (...) Los libros son espejos: sólo se ven en ellos lo que uno ya lleva dentro"

(Carlos Ruiz Zafón, La sombra del viento)

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Troca Troca

Minha paixão pelos livros é uma das minhas características mais evidentes. Meu quarto demonstra esse amor. Gosto de ler, de comprar, de cheirar, folhear, contemplar e emprestar. Eu gosto muito de emprestar meus livros, de permitir outros encontros. E, apesar da minha enorme vontade de comprar e tê-los, sinto um prazer indizível em ler livros emprestados. Não qualquer livro emprestado, não simplesmente ver na mão de um amigo e pedir, mas quando ouço meu colega falar sobre o que sentiu ao ler o livro; ou quando olha para mim um amigo e diz: li um livro que você vai gostar. Estes livros emprestados eu amo. Sinto como se uma parte da pessoa viesse de brinde no livro e como se uma parte de mim fosse de volta com o livro. Também por isso amo emprestar, é um ato de extrema confiança, emprestar livros, sobretudo aqueles que não são emprestáveis. Meus livros são viajados.
Tenho uma amiga que adora marcar meus livros, uma vez que ela é extremamente respeitosa, sempre o faz de lápis, eu permito sem pudor. E então, quando eu vou consultar um livro meu, lá está um sorriso, um coração, uma flor, ou um sol em alguma passagem que lhe marcou. Então eu sorrio por ter acesso ao que ela sentiu quando leu meu livro, uma parte dela segue comigo.
Eu sempre ofereço meus livros de bom grado, pois gosto de compartilhar sentimentos. O último livro que li – sobre o qual postei recentemente - era emprestado, um desses em que eu soube parte do que esta leitora amiga sentiu quando leu o livro e ela me emprestou com coração alegre. (ou fingiu muito bem.) Tenho o costume de trocar livros com ela. Ela me empresta os dela com frequência, e eu lhe empresto os meus. Compartilhar livros, por vezes, é quase como compartilhar segredos. Muito dizem sobre nós as nossas estantes, nossas escolhas.
Por vezes, ao comprar um livro, já penso em dois ou três amigos para os quais quero mostrar os títulos. Compartilhar livros é outra forma de amor e de amar eu penso. Deixar aquelas partes de mim morarem em outras casas por um período de tempo e recebê-los de braços abertos quando retornam de mãos dadas com partes dos outros. Aprendi com outra amiga – que hoje mora em outro país - a valorizar as viagens e as guerras que travam meus livros e a saber que enquanto um livro nosso está em outra casa, é um pedacinho de nós que mora lá. Por isso, o empréstimo requer confiança, intimidade e amizade, para ter certeza de que não importa o tempo que se passa, cuidarão bem daquele pedaço meu. 

2 comentários:

  1. Já me senti plenamente assim. Hoje seleciono os amigos e os livros. Triste verdade de uma estrada mais longa que a sua, mas...

    Como há seleção, os empréstimos são certeza de vida, de olhos que brilham e apreciam, que respeitam o objeto e a pessoa que o emprestou.

    :)

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