"Cada libro, cada tomo que ves tiene alma. El alma de quien lo escribió y el alma de quienes lo leyeron y vivieron y soñaron con el (...) Los libros son espejos: sólo se ven en ellos lo que uno ya lleva dentro"

(Carlos Ruiz Zafón, La sombra del viento)

quarta-feira, 14 de março de 2012

Hibisco Roxo

hibisco roxo
Quando conheci Chimamanda Adichie eu estava em um período de enormes descobertas acadêmicas e passos gigantescos estavam sendo dados na contramão dos meus enormes receios, medos. Eu me encantei quando a ouvi falar sobre o Perigode uma História Única. O encantamento me levou imediatamente a procurar o único livro traduzido até aquele momento: “Meio Sol Amarelo”. Li e fiquei completamente apaixonada. O livro roubou-me o fôlego de tal modo que não consegui sequer guarda-lo para mim ou apenas em mim, passei para frente. Sabia que este era o segundo livro desta Nigeriana encantadora. Quando o primeiro – “Hisbico Roxo” – foi finalmente publicado no Brasil, não resisti e comprei-o. Primeiramente, tive medo de me decepcionar. Quando lemos um excelente livro de um autor, quase uma epifania e temos medo de ler outro que não cause em nós a mesma excitação, emoção, alegria, dor...
Não me decepcionei. Hisbico Roxo é ainda mais forte que o primeiro, mais duro, mais cruel. Deparei-me com uma realidade não apenas desconhecida – como fora a guerra civil nigeriana no primeiro romance – deparei-me com os horrores de todo e qualquer extremo. De fato, como raras vezes acontece em alguns bons livros, parei estupefata diante de mim mesma e de toda minha potencialidade para crueldade. Levei um susto. Respirei. Li mais um pouco. Chorei. Todas as minhas identidades sendo ativadas de uma vez só, tudo ao mesmo tempo e agora: cristã, mulher, historiadora, filha, irmã, aluna, professora, sobrinha, prima... Tudo ali. Sintetizado em cenas esparsas. Nebulosas. Duras. Cruéis. Fui confrontada e em muitos momentos, fiquei sem resposta plausível e sem palavras possíveis. O silêncio ficou em mim, somente agora – mais de 6 meses depois de tê-lo terminado – é que sento para escrever, não sobre o livro, mas sobre mim mesma; sobre o que senti, e ainda sinto...
Toda a luta de Kambili para encontrar seu lugar diante das identidades conflitosas e para lidar com a intolerância religiosa de seu pai ecoa ainda dentro de mim. Quase como se pudesse partilhar ali daquela história, como se fosse um pouco minha. Talvez este seja um grande atributo de Chimamanda, trazer-nos para perto de uma realidade outra, distante. Apresentar outros lados de outras moedas. Colocar-nos diante de outros Outros para que, quem sabe, eventualmente se transformem em nós. 

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