"Cada libro, cada tomo que ves tiene alma. El alma de quien lo escribió y el alma de quienes lo leyeron y vivieron y soñaron con el (...) Los libros son espejos: sólo se ven en ellos lo que uno ya lleva dentro"

(Carlos Ruiz Zafón, La sombra del viento)

sábado, 4 de junho de 2011

Rápido por quê?

Quando comecei a escrever o comentário ao texto do Felipe percebi que ele estava gigante, então resolvi responder postando um texto e incorporando o comentário no meio do texto.
Eu fui uma criança leitora, minha mãe leu para mim desde que eu consigo me lembrar. Por meses a fio lia a mesma história dublando os personagem - alguns ela lembra até hoje de quais eram as vozes e as falas. Porém, eu tive muita dificuldade para aprender a escrever. Eu lia bem mas, escrever era um suplício. Por mais surpreendente que possa parecer eu fui uma criança extremamente tímida. Poucos amigos. Poucas palavras. Vergonha de abraçar. Vergonha de sorrir. Vergonha até de pedir para ir ao banheiro. Sempre achei que eu era meio burrinha, afinal, todos os meus amigos escreviam tão bem... Minha caligrafia era horrenda - sim Eunícia, isso não é de hoje - e todos os professores reclamavam. Então, quando eu cheguei na segunda série eu conheci uma professora fabulosa que marcou minha vida de forma indelével. Apesar da minha extrema timidez, da minha horrenda caligrafia, das minhas notas vergonhas, de ser a piada da turma, apesar de tudo isso ela focou-se nos meus pontos fortes, elogiou-me, e descobriu enfim que meu problema não era uma burrice sem remédio, mas ausência de óculos. Ela foi uma professora incrível. Fico me perguntando se os professores não ganhariam mais elogiando seus alunos do que criticando-os apenas. Certamente concordo que as críticas são fundamentais para que se aprenda a ser sempre melhor, porém, são os elogios que nos mostram que existem coisas que fazemos bem. Podemos melhorar evidentemente, mas não fazemos tudo errado ou ruim.
Sim Felipe pode até ter lido rápido demais, mas também tinha se empenhado em fazer uma boa leitura, merecia pelo menos uma explicação do conceito de rápido da professora. Eu entendia poucas coisas, mas não era fruto de burrice e sim de não enxergar bem o quadro e de ser um pouco mais lenta para aprender. Encontrei uma professora paciente e amorosa. Se tem uma coisa que eu me lembro é exatamente de como eu era amada por ela. O amor fica.
Acredito profundamente que o magistério é um sacerdócio. Talvez falte um pouco disso a alguns professores: devoção. Transformar a escola em altar e cada aula em oração, sendo assim parte de uma liturgia que sempre falha, que está sempre incompleta, mas que se aperfeiçoa com o tempo. Então eu gosto de pensar que na segunda série eu não encontrei apenas uma professora, eu encontrei uma sacerdotisa, que virou um dos meus mais seguros exemplos. Sinto saudades dela.

Um comentário:

  1. Lindo! Arrasou...
    E se o magistério é um sacerdócio, Ilmar Rohloff de Mattos é o Papa!

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