"Cada libro, cada tomo que ves tiene alma. El alma de quien lo escribió y el alma de quienes lo leyeron y vivieron y soñaron con el (...) Los libros son espejos: sólo se ven en ellos lo que uno ya lleva dentro"

(Carlos Ruiz Zafón, La sombra del viento)

sábado, 6 de fevereiro de 2010

"Stat rosa pristina nomine, nomina nuda tenemus"


"Talvez a tarefa de quem ama os homens seja fazer rir da verdade, fazer rir a verdade, porque a única verdade é aprendermos a nos libertar da paixão insana pela verdade."
(Guilherme de Baskerville)

O demônio está a solta em uma abadia beneditina do norte da Itália, em fins de novembro do ano de 1327. Sete mortes misteriosas e intrigantes no decorrer de sete dias. As vítimas: monges. Os principais suspeitos: monges. Para lá são enviados o frei Franciscano Guilherme de Baskerville, encarregado de uma missão pelo imperador, e seu pupilo, o noviço beneditino Adso de Melk, narrador da história. Ao "demostrar provas de grande argúcia", Guilherme é encarregado pelo Abade a desvendar os mistérios de uma morte (ao final de sete dias seriam sete). Ao desenvolver suas investigações, Guilherme logo descobre o papel central desempenhado pela misteriosa e "proibida" biblioteca da abadia nos crimes. Descobre também a existência de duas abadias: uma diurna, santa e virtuosa e uma noturna onde eventos estranhos e pouco virtuosos se desenrolam. Enfim... não cabe aqui e nem tem graça contar a história toda. Mas já deve ter ficado claro que me refiro ao Best seller de Umberto Eco, O Nome da Rosa.

Mais que um romance policial, O Nome da Rosa apresenta uma interessante visão e reflexão sobre a Idade Média, as heresias, os modos de pensar e as visões religiosas da época, assim como também traz interessante reflexão sobre a religião católica. Umberto Eco situa sua história em um contexto conflituoso entre hereges e as próprias ordens religiosas da Igreja Romana e suas diferentes visões. Uma época em que o imperador Ludovico da Baviera e o papa "herege" João XXII estavam em conflito, dividindo o mundo político e o religioso entre as facções ligadas a um e a outro.

Assisti a adaptação cinematográfica do livro, estrelada por Sean Connery no papel de Guilherme de Baskerville, há muito tempo e não me lembrava direito. Após ingressar na faculdade, ouvi falar diversas vezes deste livro de meus professores e li sobre ele em vários textos dos cursos, que comparavam o historiador ao detetive que deve seguir pistas aparentemente irrelevantes para desvendar os "mistérios". Assim faz Guilherme de Baskerville. No começo do livro, este personagem descreve com impressionante precisão o cavalo fujão do Abade sem nunca tê-lo visto antes, no melhor estilo Zadig. Enfim, resolvi me aventurar. O livro é denso, com profundas reflexões religiosas e políticas sobre questões que dominavam a época, como já mencionei. Por vezes me pareceu exaustivo e enfadonho, contudo, isto não tira seu brilhantismo. Repleto de passagens em latim não traduzidas é um livro erudito, profundo, que discorre sobre a virtude e a pureza; o pecado, os vícios e as tentações. É um belíssimo livro e recomendo sua leitura a todos.

Pretendo reler O Nome da Rosa um dia, quando estiver mais maduro, agora que conheço a história e não tenho mais pressa de chegar ao fim... perdi muita coisa interessante durante esta leitura.
"Do único amor terreno de minha vida não sabia, e nunca soube, o nome."
(Adso de Melk)

PS: A frase que usei como título é a última frase do livro... enigmática.

4 comentários:

  1. AMEI esse livro. Através dele conheci Umberto Eco, na época da minha graduação e já meio interessada em Semiótica. Enfim, tudo para ter por ele um carinho especial... Saudades daquela leitura. Obrigado pela lembrança. Também vou reler qualquer dia desses...

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  2. Depois desse post fiquei com vontade de ler o livro. Até hoje só vi o filme.

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  3. Revi o filme outro dia... não é um bom filme. Pelo menos eu não gostei. É corrido, diverge do livro em pontos desnecessários e foge de pontos essenciais na leitura...

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  4. O nome da Rosa é uma aventura, faz-nos refletir sobre um passado tão presente no cotidiano de cada um, "ordem sobre ordem" e umas mais sob outras.
    como diz no seu final, parte de um poema de: Bernardo Morliacense. "a rosa antiga permanece no nome, nada temos além de nomes". sugiro que se gosta de historias da idade média leiam também o Malleus malleficarum (martelo das feiticeiras).

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